Plano-sequência (#8): L'inconnu du lac (2013)
Em seguimento dos prodígios cinematográficos abordados no mês de Outubro e em jeito inaugural para esta segunda vaga encontra-se uma das obras de Alain Guiraudie. O filme-sensação do festival de Cannes viria a arrecadar o galardão de melhor realizador. Mas como esta rubrica não espelha considerações de um filme na sua íntegra, passo a destacar um dos planos-sequência deste drama francês. O plano em questão não se afirma como um colosso no que diz respeito à técnica. Ao invés, merece este destaque pela subtileza ao retratar um momento-chave da narrativa.
20:49 - 24:39
O olhar da câmara assume a visão do próprio protagonista, ambos com uma postura quase voyeurista. Franck (Pierre de Ladonchamps) testemunha uma mudança gradual na atitude dos dois seres que nadam no lago. No espaço de poucos segundos, a aura de brincadeira ganha contornos de sobrevivência aquando dos primeiros sinais de perigo. O enquadramento fixo mantém-se adormecido como um simples espectador. O olhar da câmara não nos dá outra hipótese senão delinear os contornos que os pensamentos do protagonista tomam perante aquele instante. O mesmo se pode dizer dos homens no lago, cujas expressões faciais não nos são perceptíveis. Os gritos chegam-nos com mais fulgor, mais significado perante o seu distanciamento. Submerge uma última vez e os gritos são agora substituídos pelo respirar ofegante do assassino. Findado o complemento sonoro do esforço físico resta o som das ondas que preenchem o quadro. É exímio o contraste obtido entre a beleza da natureza e o acto selvagem levado a cabo pelo ser humano.
A câmara inicia o seu ligeiro movimento para a esquerda, optando igualmente por um ângulo um pouco mais picado. Tudo feito de forma bastante subtil, cobrindo cada movimento daquele que é agora o único humano presente no quadro. Michel (Christophe Paou) contempla as águas calmas que escondem o acto que acabou de cometer. Dá-se um novo movimento de câmara desta feita um pouco mais acelerado que cobre o percurso da personagem. Nenhuma acção corporal pode assim ser descurada perante o cuidado que a câmara assume ao oscilar várias vezes sobre o eixo horizontal.
O secretismo do olhar do protagonista intensifica-se com os vários ramos que se interpõem entre este e o personagem enquadrado. Um último olhar contemplativo antes da montagem dar lugar a um novo plano.
Eu realmente gostei de seu blog
ResponderEliminarFico contente por agradar com este pequeno espaço, ainda que ultimamente um pouco mais parado. Obrigado pelas palavras!
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