Somos homens, ora bolas!



O filme L'Amour Violé (1978) adequa-se aos contornos de uma tese. A realizadora francesa Yannick Bellon pretende demarcar uma posição ilustrativa do ser feminino que representa e, como tal, apresenta ao espectador uma autêntica batalha de sexos, exigindo que o mesmo escolha um lado e rejeite os ideais do pólo imediatamente oposto. É directa e um tanto ou quanto exaustiva na apresentação dos factos e ambas as características não abonam por completo a seu favor. Os desenhos dos alunos de uma escola primária são exemplo disso mesmo. A tarefa destas crianças passa pelo registo a lápis de cor daquelas que vêem como sendo as tarefas dos respectivos pais. As mulheres são obviamente retratadas como meras donas de casa sem qualquer objectivo visível para além de agradar aos maridos. Não havendo uma única excepção à regra, acaba por perder um pouco a veracidade. Senti que algum método científico estava a ser comprovado diante dos meus olhos e que todas aquelas mulheres ilustradas não eram mais do que amostras que tinham obrigatoriamente de se afirmar de uma determinada forma para que a realizadora pudesse levar avante o seu ponto de vista. Tamanho exagero não era de todo necessário, estando a crítica social impregnada quanto baste na grande maioria dos planos.

O título que dá entrada a estas palavras serve como uma das linhas de diálogo usadas de forma leviana e em jeito de desculpa face aos dedos apontados ao ser masculino. Retratados como animais que optam por não controlar os seus desejos sexuais, sucumbindo no desplante de repreender as mulheres por existirem numa constante provocação perante estes. As mulheres? Essas agrupam-se numa elite que se limita a lavar a loiça, tratar do jardim e fazer o jantar. Reduzidas a meros objectos sexuais que deviam caminhar em terra com plena consciência de servirem unicamente para agradar os homens. 

Uma mulher que pede ao marido aquele que avista como o presente ideal: uma máquina de lavar roupa. Uma miúda que se revolta e no recreio pretende fingir ser um ladrão, "cargo" tipicamente ocupado pelo sexo masculino. São várias as peças que vão sendo adicionadas pela realizadora com o intuito de construir os desígnios dos quais parte. A estética exibida eleva o tom feminista a outro patamar. A palete de cores que ronda o castanho, rosa, roxo e lilás permite tratar de forma mais vincada o seu ponto de vista. 

A protagonista torna-se gradualmente um ser anónimo. Reduz-se ao rótulo de mulher, dirigida por uma mulher e que pretende defender os outros rostos do seu sexo. 

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