Crítica: Alps (2011)
Título original: Alpeis
Realização: Giorgos Lanthimos
Argumento: Efthymis Filippou; Giorgos Lanthimos.
Depois de Dogtooth (2009), o reconhecido sucesso de Giorgos Lanthimos por entre a crítica especializada, o realizador tenta repetir a façanha em 2011. E para tal parece embrenhar-se numa fórmula que ele próprio tem vindo a definir e que aparenta ser a sua assinatura. Mas será que resulta? Creio que sim, mas num patamar claramente inferior. No meu percurso por esta estrada do cinema, Dogtooth teve o condão de apresentar o cinema grego no seu expoente máximo. Fiquei deliciado com o evidente clima bizarro em que se inseria aquele argumento extremamente bem cuidado. Vibrei com a presença da câmara de Lanthimos. E no final queria mais, muito mais. E foi com grande expectativa que aguardei a sua próxima obra, a mesma sobre a qual aqui me debruço.
Aqui voltamos a ter um argumento igualmente delicado e com tempo dedicado a diálogos que normalmente são rotulados de banais e inúteis. Diálogos que o comum espectador não teria interesse em absorver. E a presença dessas mesmas linhas de diálogo é um dos pontos a favor do argumento de Alps. O argumento gira em torno de um grupo de quatro pessoas que se intitula de Alps. Esses colaboradores do grupo ajudam pessoas ao longo do processo de luto, ao representarem recém-falecidos. Uma premissa bastante forte que lida com a vida e a morte e que funciona como um ensaio para a própria vida.
O verdadeiro protagonismo acaba por pertencer a Aggeliki Papoulia, a única actriz que regressa do filme anterior de Lanthimos. Entrega novamente uma óptima representação ao desempenhar o papel de uma das colaboradoras. Também neste filme volta a representar a personagem que foge às regras perante uma ordem estabelecida no mundo paralelo da dupla de argumentistas. Tanto nesta actriz como no restante elenco principal, é interessante observar a diferença que se acentua entre os dois tipos de representação evidentes. Por um lado temos a representação que lhes diz respeito à vida real. Por outro temos uma representação mais forçada, estando esta dentro do fingimento perante as famílias que requerem os seus serviços. Fora do argumento em que se insere, o elenco correria o risco de ser apelidado de incompetente e inexpressivo, o que claramente não é o caso.
O que é interessante é o facto de que as vidas que fingem funcionarem como exemplos para eles próprios. Como reagiriam se tivessem de passar realmente por determinado acontecimento? Com aquele trabalho obtêm respostas válidas para usarem futuramente. Como se o mundo fosse uma teia de actos ou conversas que não são mais do que reinvenções de si próprias. Estas última conversas entre empregado e cliente antes do verdadeiro desprendimento, funcionam como acto robótico que se apoia no considerado senso comum. Surge a oportunidade do cliente dizer algo que não disse enquanto o ente querido estava vivo. E essa oportunidade é como se fosse um ensaio que não vai ver a luz do palco.
A personagem de Aggeliki experimenta várias sensações no decorrer do filme. Acabamos por não perceber se essas sensações lhe causam dor real. A sua identidade não é mais um dado adquirido. O espectador fica na dúvida se é sincera consigo mesma na vida que vive. O final do filme revela uma autêntica perda de identidade. Já não sabe como se comportar nem sabe quais são as atitudes que se afirmam correctas por entre a sociedade. As frases que lança ao ar saem-lhe da boca com a possibilidade de serem as humanamente aceites.
A violência, nomeadamente no que diz respeito aos castigos corporais, continua presente nesta sua linha cinematográfica. Giorgos Lanthimos volta a empreender planos pouco usuais, não se importando de cortar a cabeça das personagens se necessário. Desconstrói a linha do corpo humano como definida na escala de planos.
Creio que acaba por ser um filme um pouco subvalorizado quando comparado com o seu genial antecessor.
Classificação: 7/10
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