Crítica: Homem no Arame
Título
original: Man on Wire (2008)
Realização:
James Marsh
“It’s impossible,
that’s sure. So let’s start working”, Philippe Petit
[Spoilers] Philippe Petit deu os seus
primeiros passos sobre um arame aos 16 anos, actividade que se viria a tornar a
sua maior paixão e obsessão. Aos 22 anos, no ano de 1971, começou a criar
obstáculos à sua arte e caminhou sobre um arame por entre as torres da Catedral
de Notre Dame em Paris. Dois anos depois voltou a deslumbrar a população
curiosa ao caminhar por entre dois pilares da Sydney Harbour Bridge. Depois de
muitos anos de planeamento na sua cabeça, estava pronto a executar a
inacreditável caminhada que lhe iria trazer o devido reconhecimento como um dos
melhores funâmbulos do mundo.
“If I die, what a
beautiful death!”,
Philippe Petit
James Marsh documenta igualmente o
seu feito em Paris e em Sydney, mas o foco do seu documentário toma de assalto
a sua prodigiosa caminhada por entre as torres gémeas na cidade de Nova Iorque.
Desde que o World Trade Center era ainda um rascunho, Philippe sabia que um dia
teria de conquistar o céu entre as torres. O seu plano germinava à medida que a
construção era levada a cabo. Maravilhosa a sequência fílmica em que observamos
com o recorrer ao split screen, a construção das torres gémeas lado a lado com
o crescimento do próprio Philippe. Como se as torres estivessem a ser
construídas única e exclusivamente para ele e para a alimentação da sua arte. A
ilegalidade cometida por Philippe e o seu grupo de ajudantes no dia 7 de Agosto
de 1974, acaba por ser apoiada pelo espectador durante todo o seu decorrer.
Todos queremos testemunhar arte a ser feita, alguma beleza transcendente a
preencher os céus. E assim apoiamos cada passo do funâmbulo, que se encontra
tão perto da morte. Quase como se estivessemos na pele dos nova-iorquinos que
tiveram a honra de testemunhar o acontecimento em pleno directo. Philippe
deita-se no arame, conversa com as aves e ri-se com a evidente imagem da
polícia a aguardá-lo no término do fio. E o espectador, seja o real ou o
filtrado, delicia-se com a existência daquele ser humano.
Quando terminei a visualização do
documentário, perguntei-me porque razão o realizador tinha optado por não
fornecer nenhum tempo de antena à tragédia que assolou o World Trade Center no
dia 11 de setembro de 2011. Isto tendo a convicção inabalável de que tinha
tomado a melhor decisão. James Marsh afirma que o acto de Philippe era algo
extremamente belo e único, que seria quase um crime obscurecer tais imagens com
qualquer referência à destruição das torres gémeas.
Nota especial para a banda-sonora composta por Michael
Nyman, que parece nos querer transportar para a mente do próprio artista. Baseado
na obra de Philippe Petit intitulada To
Reach the Clouds, o documentário salientou-se em 2008 com o ganho do Óscar
para melhor documentário. Quanto a mim, é um exemplo perfeito do que de melhor
se faz na área do documentário. Montagem exímia, na medida em que conjuga
bastante bem as filmagens existentes, a encenação de certos acontecimentos e as
palavras das nossas personagens verídicas.
“Life should be lived
on the edge of life. You have to exercise rebellion: to refuse to tape yourself
to rules, to refuse your own success, to refuse to repeat yourself, to see
every day, every year, every idea as a true challenge – and then you are going
to live your life on a tightrope.”, Philippe Petit
Classificação: 9/10
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