Crítica: Naqoyqatsi - A Guerra Como Forma de Vida
Título Original: Naqoyqatsi – Life as War (2002)
Argumento e Realização: Godfrey Reggio
Música: Philip Glass
Montagem: Jon Kane
“Imagens que vemos diariamente e que se misturam com o enquadramento da própria vida.”, Godfrey Reggio
[Spoilers] Depois de Koyaanisqatsi (1984) e Powaqqatsi
(1987), a trilogia Qatsi testemunha o seu término com Naqoyqatsi (2002). Uma trilogia documental que vive na sua essência
da sintonia entre imagens e música, da sintonia entre Godfrey Reggio e Philip
Glass.
O último capítulo do trio
inicia-se com um plano progressivamente mais aproximado do quadro de Pieter
Bruegel, A Torre de Babel. A
multiculturalidade espelhada num quadro. A comunicação nas mais variadas
formas. O mundo da internet a ligar continente a continente e a permitir uma
comunicação mais alargada.
Estamos num milénio em que a manipulação
do ser humano é mais acrescida face à ascendência da tecnologia. O ser
trabalhado e o ser manipulado. Não deixa de ser interessante que, de entre os
três filmes da trilogia da vida, este se destaque mais em termos de brincar com
a montagem. O ser humano acaba por ser manipulado em termo de imagens, levando
a um apoio acrescido de tal conceito.
Interessante o plano da ovelha na
medida em que pode simbolizar a clonagem e ao mesmo tempo o ser humano como
fazendo parte de um rebanho a deambular pela Terra. Indivíduos que acabam por
ser reféns da tecnologia, dinheiro, pátria, religião, etc.
Os bebés desnudados alinhados em
fila num cenário estrelado. Como se fossem uma produção quase mecânica que se
organize para preservar a espécie. Por outro lado, e mais uma vez, a
manipulação do ser humano através da inseminação artificial.
O desporto como treino para
aproximar o corpo das máquinas. A glória adquirida. A fama conquistada e a
globalização da mesma.
Um recolher de imagens de uma
América e de um Mundo restante. Martin Luther King, Princesa Diana, George W. Bush,
Nelson Mandela, e muitas outras personalidades que marcaram a história, a
desfilarem nas imagens.
As imagens que nos bombardeiam a
visão diariamente. Acabam por fazer parte da nossa vida sejam em termos de
informação, publicidade, etc. Imagens publicitárias que nos dirigem a um
consumismo no qual se procuram exemplos a seguir. As imagens que nos mostram
aquilo que pensamos ser impensável e que nos fazem ir mais longe.
Um mundo onde reina a violência. A
violência que pode surgir precocemente nas mentes mais inocentes através de de
videojogos, filmes, etc. Esses meios que acabam por ficcionalizar uma violência
que não foge à realidade diária. Motins. Manifestações. Um mundo em constante
revolta de interesses.
De salientar o plano em que
observamos vários obras de arte, nomeadamente pinturas, a fundirem-se umas nas
outras, acabando por dar lugar a uma imagem real de uma mulher a chorar. A arte
e a realidade em constante fusão.
Os bonecos teste que espelham uma
América que testa constantemente os seus próprios limites.
O documentário finaliza-se no
espaço com o protagonismo de astronautas e paraquedistas. O espaço a englobar o
paraquedista na sua imensidão. O indivíduo acaba por ser uma apenas uma mancha
no Universo.
Um documentário de destaque com
uma montagem verdadeiramente caleidoscópica. A música de Philip Glass continua a
destacar-se pela sua mestria e o contributo de Yo-Yo Ma é indispensável. Um bom
término para a trilogia Qatsi.
Classificação: 7/10
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