Plano-sequência (#6): Touch of Evil (1958)
Celebrado como um dos maiores feitos na história da sétima arte, a abertura do filme de Orson Welles funciona como uma mini-narrativa que se desenrola no tempo real de pouco mais de três minutos. É realizada com o intuito de catapultar o filme mas também como forma de captar a total atenção do espectador, aquele que possui mais informação visual que todos os habitantes do mundo diegético. Funciona como uma confidência para com o espectador, que se limita a aguardar um acontecimento iminente.
Inicia-se com um enquadramento aproximado, destacando o objecto que se assume como o cerne da acção. A bomba é programada e esse mesmo relógio delimita a duração do plano-sequência. A partir daquele instante, o automóvel que alberga a bomba é o motivo que grita pelo movimento da câmara.
É usada uma grua (crane shot) para poder cobrir toda a acção, sendo assim possível fechar e/ou alargar o enquadramento. A câmara antecipa o percurso do veículo e eleva-se para dar lugar a um ângulo picado, que oferece uma visão geral do espaço em questão. Todos os elementos se encontram controlados ao mais ínfimo pormenor.
Um casal entra em campo e rouba a atenção da câmara. Tornam-se agora o motivo que alimenta o enquadramento e gradualmente crescem na mente do espectador como os protagonistas daquela história. O suspense em modo hitchcockiano está bem presente, não sendo a explosão o momento-chave mas sim a antecipação criada para se desenrolar na direcção desse instante.
A música proveniente do veículo protagonista marca a presença quando este se encontra fora de campo, sendo necessário para garantir que se encontra próximo. A visão geral torna-se gradualmente num enquadramento de conjunto. Com o aproximar do instante-chave, propõe-se a oportunidade de criar uma maior intimidade entre a audiência e as personagens principais e as vítimas em questão. É igualmente dado a conhecer que se encontram na fronteira entre os Estados Unidos e o México e que o veículo a transpõe em direcção ao solo americano.
Primeira vez que o casal protagonista se encontra na terra de origem do elemento feminino. A audiência sente que o instante está próximo. Um beijo em enquadramento médio tenta roubar a atenção desse instante. É interrompido pela tão esperada explosão. Os olhares apressam-se a cobrir o incidente.
Protagonistas e respectivas origens apresentadas. Bomba colocada no México. Explosão na América. A história recebe os contornos necessários num único plano-sequência.
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