A cordial saudação

[Spoilers] Tantas sequências que merecem o seu devido destaque neste Mon Oncle (1958). Os filmes de Jacques Tati são como uma porta para um novo mundo, onde entramos e esquecemos as pré-concepções do nosso próprio mundo. Cada plano, por si só já genial, enquadra uma mise-en-scène extremamente criativa e que espelha a própria sociedade. Sempre com uma pitada futurista, Tati oferece-nos uma disposição única no tempo e no espaço, nunca descurando as críticas que emergem à superfície. Tudo espelha um ambiente perfeito e um tanto ou quanto estranho aos olhos do espectador, este que está sempre com atenção aos mais ínfimos pormenores presentes na sua obra. Por alguma razão, sempre que penso no realizador, recordo-me desta pequena cena que tantas gargalhadas me arrancou perante o seu grau de ridicularidade. 
A fonte a ser constantemente accionada de forma a caracterizar a importância dos convidados e a própria hipocrisia da anfitriã. É impressionante como através do uso de um objecto, Tati consegue criticar na perfeição a mentalidade da sociedade, a mesma que ainda se faz sentir nos dias de hoje. E nesse sentido, o realizador afirma-se também como um futurista. Após tudo estar preparado para receber a convidada, dá-se o saudação. A ridícula saudação que não passa de um mero gesto educado que não necessita de uma troca de olhares. A forma como as duas personagens preenchem o espaço é genial, acabando por espelhar a mentalidade de cada uma.

Comentários

  1. Tati foi um génio e um autêntico visionário, que sobrevive até aos nossos dias muito bem. De resto, como a cena bem ilustra. Bom destaque.

    Cumprimentos,
    Jorge Teixeira
    Caminho Largo

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    Respostas
    1. Subscrevo. Os seus filmes têm uma pitada de futurismo que tanto me agrada. Ando com um desejo súbito de ver toda a (curta) filmografia do Tati. Em breve quando tiver mais tempo vou-me deliciar :D

      Cumprimentos,
      Rafael Santos

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