Lars von Trier e os seus prólogos

Antichrist chegou em 2009 pelas mãos do realizador dinamarquês para imediatamente causar controvérsia. Inicia o seu filme com um prólogo, uma sequência em slow motion e a preto-e-branco. Um casal a fazer sexo e uma criança a caminhar para a morte, duas situações distintas a acontecer em simultâneo. 
A carga da cena é de uma extrema agonia para o espectador, mas por outro lado consegue ser uma das sequências mais belas da história do cinema. Observamos todas as expressões das três personagens envolvidas e os seus passos lentos e demorados. Somos arrastados numa corrente de dor que devido ao seu ritmo lento parece não acabar, nunca deixando de captar a atenção do espectador. Brilhante o momento em que observamos a criança a cair da janela no preciso momento em que a sua mãe está prestes a atingir o orgasmo. No decorrer do filme percebe-se o quanto esta personagem associa o sexo à morte do seu próprio filho. Não deixa de ser interessante ao pensarmos que aquela criança nasceu a partir de uma relação  sexual entre ambos e acabou por morrer por negligência enquanto estes se entregam ao prazer carnal. Vemos várias pistas para temas abordados ao longo do filme, como os soldados que ilustram as fases do luto, as botas trocadas, etc. O peluche cai na neve tal como a inocência daquela criança. Após a morte da criança e o prazer do casal, reina a calma durante alguns segundos. Duas situações tão distintas que por instantes terminam em paz. 
A música Lascia ch'io pianga de Handel sufoca, embala e embeleza a cena, tornando-a brilhante, mesmo para quem não consegue gostar do filme. 




No seu filme seguinte, o prólogo é um pouco mais extenso com cerca de 8 minutos. A cena a que me refiro é do filme Melancholia, estreado em 2011, e é igualmente cativante. O fim do mundo. A angústia e o desespero que a maior parte da população sentiria com tal possibilidade. A sequência remete-nos para esse sentimento. Também em slow motion, temos acesso a várias informações importantes no futuro do filme. Uma sequência que mergulha entre o sonho e a realidade. 
Kirsten Dunst inicia a sua estrondosa representação nesta mesma sequência inicial, a dirigir-se ao espectador com os seus olhares perdidos e de certa forma conformados com o que está para vir. A colisão das próprias personagens consigo próprias e a colisão dos planetas. Uma destruição iminente que espelha também de certa forma as personagens. Observamos o fim de tudo e sabemos à partida para onde caminha o filme, o que nos intensifica o desconforto perante algo que não pode ser evitado. 
Uma sequência das mais belas de que há memória, com planos de tirar a respiração, como o cavalo a cair ao chão com as luzes do norte a reinar por cima. A música Tristan und Isolde de Richard Wagner, trabalha igualmente na perfeição com a imagem a que se associa. 

Podem visualizar a dita sequência no endereço que se segue:

Comentários

  1. Acompanho a tua admiração por esses momentos de introdução e de definição de um género,em si dele mesmo, Lars von trier.

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    1. É sempre bom encontrar outro admirador de um realizador tão polémico e que tanto divide as opiniões.

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  2. Gosto muito dele também, O Anticristo ainda não tive coragem de ver, não sei se vou gostar... mas um dia crio coragem. Sobre Melancholia, a visão de VOn Trier foi além de tudo que conhecemos do cinema, me arrepio até hoje em lembrar do início fechado e suspenso do filme, que já dizia tudo sobre seu futuro sem que soubessemos e quando chegamos ao fim... putz, eu não esperava por aquilo e essa surpresa fez crescer em mim a admiração por esse realizador.

    Abraço!

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    1. O Anticristo não é um filme para agradar a qualquer pessoa. Chocante, visceral, o filme mais polémico da sua carreira (a par com o The Idiots). Mas é também o meu preferido entre a sua carreira, a par com o Dogville. Aconselho vivamente a visualização, mas num dia em que estejas com o estado de espírito certo eheh Fico à espera de ler algo sobre o filme no teu espaço :)

      Abraço

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  3. Grandes prólogos, grandes momentos, totalmente de acordo. Do que conheço até à data de Von Trier, também me posso considerar um admirador seu, pelo que estamos novamente em sintonia.

    Cumprimentos,
    Jorge Teixeira
    Caminho Largo

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    1. É deveras fascinante. Já agora, de entre os que visualizaste qual o teu preferido?

      Cumprimentos,
      Rafael Santos

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    2. Tenho falhas gritantes que têm de ser colmatadas o quanto antes, mas por agora e do que vi talvez seja o Europa (genial), logo seguido pelo Dogville.

      Cumprimentos,
      Jorge Teixeira
      Caminho Largo

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    3. O Dogville é uma obra e tanto :) O Europa é realmente muito bom e sem dúvida o melhor da trilogia.

      Cumprimentos,
      Rafael Santos

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