Crítica: Wreck-It Ralph

Realização: Rich Moore
Argumento: Rich Moore; Jim Reardon; Phil Johnston; Jennifer Lee
Elenco: John C. Reilly; Jack McBrayer; Jane Lynch; Sarah Silverman

[Spoilers] Um filme de animação pensado para um público-alvo claramente mais amplo do que as habituais crianças e adolescentes. Obviamente que esse mesmo leque habitual de espectadores aprecia o filme mediante todo o seu espectáculo visual e sonoro que cobre uma premissa com contornos bastante originais. Mas na busca por uma apreensão menos superficial, o 52º filme dirige-se ao espectador mais adulto na esperança de que este o preencha com a melancolia que sente ao visualizar tantas personagens reconhecíveis.
As reuniões dos “Bad-Anon” glorificam o argumento com linhas de diálogo cómicas e sinceras, tornando-as nalgumas das cenas de maior destaque do filme. Estes vilões não são de alguma forma anónimos e é quase impossível o espectador não esboçar um sorriso ao identificar cada um deles: Bowser, o antagonista da saga Super Mario; Doctor Eggman, o arqui-inimigo do famoso Sonic; Clyde, um dos fantasmas que perseguem Pac-Man; Zangief e M. Bison, ambos do videojogo Street Fighter.
Do jogo Fix-It Felix, Jr. surge o nosso vilão protagonista, o mesmo que augura poder ser reconhecido como herói, de forma a conseguir a vida que tanto deseja. Ralph não é o cerne da história perante o jogador, mas regista-se como a alma do filme na visão do espectador. O contraste entre herói e vilão está presente da melhor forma na fluidez do argumento. Por vezes queremos demasiado algo que estipulamos como necessário e quando finalmente o obtemos, em detrimento da dispensa de outros factores, apercebemo-nos de que a idealização contrasta da realidade numa larga escala. Na personagem de John C. Reilly encontramos espelhada essa mesma desilusão. Destaca-se a cena em que vemos Ralph completamente sozinho no edifício que tanto desejou, enquanto observa um dos danos colaterais que esse mesmo desejo causou.
As restantes personagens estão bastante bem conseguidas, cada uma ocupando o seu devido tempo e espaço. Destaque para a voz de Jane Lynch que atribui uma singularidade única à sua personagem.
É praticamente impossível não nos deixarmos levar pela nostalgia ao rever tantas personagens que caíram no esquecimento. A magia de colocar uma moeda e nos deixarmos envolver por aquele pequeno mundo que se desenha naquele pequeno visor. Os bonecos animados ainda meio desajeitados que tentam atravessar plataformas com o intuito de ganharem o prémio. Os carros de corrida a ganhar velocidade e os tiros que tanto gozo nos davam. O que sentimos ao encarnar pequenos heróis, depositando as características que não temos oportunidade de demonstrar na vida real. Tudo isto está presente no filme de Rich Moore.
Também se encontra presente o declínio dos Arcades, algo que se acentuou na década passada com a presença cada vez maior dos videojogos e dos jogos online. Mas como não é esse o seu principal ponto de focagem, a animação de 2012 funciona como uma homenagem à era dos “Arcade Games”.
No decorrer da visualização não pude deixar de trazer à tona da memória a trilogia Toy Story (1995-2010), na medida em que as personagens que tanto gostamos ganham vida palpável pelas nossas costas. E pede-nos o mesmo que a curta-metragem Logorama nos pediu em 2009 ao apresentar tantos ícones reconhecíveis perante os nossos olhos.
Wreck-It Ralph não só se afirma como uma óptima adição ao extenso currículo da Disney como, a um nível mais pessoal, se torna o meu filme de animação predilecto do ano transacto. 

Classificação: 8/10

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